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O software livre mudou-se pro nosso prédio

Software livre

Tecnologias livres proporcionam soluções engenhosas para automação predial e ampliam sua difusão no mercado
Exibir carrossel de imagens Arduino e Asterisk: ​tecnologias livres são utilizadas em serviços de automação predial

Arduino e Asterisk: ​tecnologias livres são utilizadas em serviços de automação predial

Com acesso facilitado devido aos volumes de produção e à facilidade de encontrar documentação técnica para profissionais e entusiastas da área, produtos eletrônicos como microcontroladores estão cada vez mais fazendo parte da vida dos cidadãos brasileiros, e muitas vezes chegando até onde menos se imagina.

Uma prova desses avanços é o microempresário paraibano Jaitony de Sousa (abaixo), proprietário da Solution Network, especializada em redes de computadores e automação. Atuando na capital João Pessoa e região, Jaitony apresentou, há cerca de um ano, um serviço inovador que permite que moradores e síndico de um condomínio de apartamentos controlem funções que antes demandavam deslocamentos físicos e por vezes a atuação de um empregado, como a abertura de portões e o acendimento de luzes de forma remota.

"Não ficamos amarrados a um fabricante que pode descontinuar o produto na hora que deseja"

Jaitony de Sousa

Jaitony conta que, por provocação de um amigo que detinha uma empresa que já atuava na área, criou o sistema que utiliza em seus eixos centrais a placa microcontroladora Arduino e o software de voz sobre IP Asterisk. Ambos são tecnologias livres, que determinaram sua escolha para resguardar a continuidade de seu negócio. “São de fácil aplicação, desenvolvimento, hardware para as aplicações e documentação. Neste caso optamos porque não ficamos amarrados a um fabricante que pode descontinuar o produto na hora que deseja”, lista seus principais motivos.

O serviço criado por Jaitony faz com que o cliente, de posse de um telefone comum (geralmente um celular) ligue para um número especial.

Jaitony de Sousa: software livre resguarda continuidade do negócio

Este número é o de uma central de PABX virtual, estabelecida em um computador e gerenciada pelo Asterisk, com acesso via serviço de voz sobre IP. Essa central, por sua vez, está ligada a um microcontrolador Arduino, que faz os acionamentos dos sistemas de acordo com as entradas proporcionadas pelo Asterisk.

O Arduino já é um velho conhecido da comunidade de software livre: as pequenas placas microcontroladoras são utilizadas para as mais diversas aplicações, desde a automação já citada, mas também para robótica, telefonia, indústria automobilística, entre outras. Foi projetado oficialmente por um grupo de engenheiros italianos, que criaram a empresa SmartProjects e venderam mais de 700 mil kits para todo o mundo.

Já o Asterisk é uma implementação de uma central de PABX sob a forma de software. Seu código é livre e funciona em sistemas Unix ou similares, podendo ser conectado tanto a redes públicas de telefonia fixa como a sistemas de VoIP – que é justamente o caso da implementação de Jaitony para poder oferecer seu serviço de automação.

"As pessoas conseguem criar componentes e integração entre eles e compartilhar essas informações"

Robson Ximenes

O empresário já instalou o seu sistema em dez condomínios e empresas da capital paraibana, e tem contrato assinado para a instalação em mais 12. O mercado, aliás, ainda pode ser mais promissor. “Pode ser facilmente adaptado para uso em residência, e já tem suporte a IPv6 nativo, que hoje ainda é raro em equipamentos de rede de baixo custo”, detalha ele, apontando que o sistema é inovador por estar compatível ao novo protocolo de conexão à internet, o que permite uma série de vantagens na transmissão de dados, como por exemplo, aumentar a velocidade de conexão.

Em parte pelo fato de utilizar tecnologias livres, Jaitony confia no potencial de expansão e de melhorias. “Existe uma segunda etapa, que ainda não foi finalizada, ao qual por comando de voz ele vai fazer o acionamento de funções”. Segundo ele, o trabalho nessa nova funcionalidade já começou e deve ser oferecido ao público em breve.

O analista de desenvolvimento do Serpro na regional Salvador, Robson Ximenes (abaixo), lembra que a adoção do Arduino para tais aplicações vem sendo feita há cerca de uma década. “Desde o início do projeto, ele foi elaborado visando esse potencial”, complementa. Robson é também membro do grupo Arduino in Rio, um dos principais grupos de discussão sobre a placa microcontroladora no país.

Robson Ximenes: uso do Arduino não é recente e demonstra competênciaRobson diz que o uso de hardware aberto, com ampla documentação, facilita o trabalho de quem tem de utilizar microcontroladores, por uma série de motivos. “As pessoas conseguem criar componentes e integração entre eles e compartilhar essas informações, podendo reconstruir esse hardware com suas próprias peças”, explica.

 O analista baiano informa que, no entanto, trata-se antes de mais nada de uma ferramenta que foi pensada para ensaios de funcionalidade, apesar da possibilidade de aplicação como produto final. Dessa forma, serve para que as pessoas encontrem seu próprio caminho e depois desenvolvam soluções próprias, com funcionalidades específicas e sem necessidade de hardware extra. “A gente coloca o Arduino como ponte de integração entre um hardware nosso. Prototipa-se com ele e depois se produz um hardware com equipamento mais apropriado”, atenta.

Para tanto, existem diversas ferramentas que auxiliam no desenvolvimento do circuito eletrônico e fabricação dessas placas específicas, como o portal fritzing.org. O projetista pode também encaminhar para um fabricante de equipamentos eletrônicos de sua confiança.