José Maria Leocádio está no Serpro desde 1997 e responde pela Coordenação Estratégica de Tecnologia (Cetec). Com experiência nas áreas de Engenharia e Computação, é graduado em Engenharia Elétrica, possui MBA em Gestão de Telecomunicações, e em Administração Estratégica de Sistemas de Informação. É mestre em Engenharia Elétrica com ênfase em Segurança e Criptografia. Nesta conversa com a Revista Tema, destacou trabalhos do Serpro e sua atuação pioneira em tecnologias para melhor gestão do Estado brasileiro. Abordou a aplicação da metodologia ágil na empresa e falou sobre o novo Centro de Informações Serpro (CIS).

Tema - Como funciona uma coordenação de tecnologia e como a Cetec, especificamente, se propõe a explorar novas tecnologias e levá-las ao Serpro?

Uma coordenação de tecnologia está ligada diretamente às inovações no ramo. Precisa manter o equilíbrio entre os modelos organizacionais vertical e horizontal, não só definindo as estratégias, como também executando-as. É preciso ter um alinhamento muito grande entre tecnologia e negócio, e uma das formas de você trazer esse alinhamento é empoderar as equipes, fazer com que elas possam propor inovações e antecipações de inovações. São esses insights criados entre a aproximação dos clientes com as equipes de trabalho que geram inovações.

Um exemplo é a própria Cetec, no Serpro. Em 2012, durante o planejamento estratégico da empresa, a coordenação propôs quatro linhas de inovação tecnológica: mobilidade, georreferenciamento, plataforma como serviço e mineração de dados. Todas elas geraram grandes ideias e entraram em produção. Depois disso, o próximo passo foi o alinhamento entre tecnologia e negócio. Para isso, ampliamos a utilização de métodos ágeis na organização, decisão que tem tudo a ver com inovação tecnológica. O próprio método ágil é uma grande inovação, pois ele consegue antecipar as inovações, os insights com os clientes, com as equipes trabalhando juntas no mesmo objetivo de produzir software. Em 201 4 o Serpro mudou a sua visão de futuro para ser um centro de informações. Essa mudança pode ser vista no endereço do portal cis.serpro.gov.br

Como a metodologia Ágil foi implantada e quais os principais benefícios desse método?

O Serpro criou um grupo de trabalho multidisciplinar formado pelas diretorias de Desenvolvimento, de Operações e de Relacionamento com Clientes para administrar os trabalhos que implantariam o Ágil. Os projetos-piloto foram conduzidos de modo a obter a sinergia e o envolvimento dessas três áreas e inclusão da metodologia no planejamento estratégico. Foram criados projetos- piloto para a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT), a Secretaria do Tesouro Nacional (STN), a Secretaria da Receita Federal (SRF) e o Ministério do Planejamento.

A estratégia para entrega de soluções foi feita a partir de um modelo de aceleração de métodos ágeis. Contratamos coaches externos e capacitação naquele conhecimento. Fizemos uma imersão e as equipes dos projetos-pilotos puderam trabalhar com esse apoio. Logo na criação desses grupos, pensamos ainda em algumas hipóteses para serem validadas, como por exemplo a percepção na melhoria da qualidade do produto e na qualidade de vida dos funcionários da empresa.

Qualidade’ é uma percepção bem difícil de medir. Para isso, a área de Pessoas do Serpro trabalhou a questão da melhoria da qualidade de vida, atuando com as equipes em um modelo que foi acompanhado pela Universidade de Brasília. Puderam perceber uma melhoria da qualidade de vida em diversos aspectos e essa hipótese foi validada nos projetos-piloto, igualmente validada por depoimentos que os clientes deram ao Serpro: ficaram extremamente satisfeitos com a qualidade dos produtos. A mudança ocorrida na visão de futuro da empresa fez com que o Serpro passasse a ser um centro de informações de governo, deixando de simplesmente atender pedidos e demandas de clientes para começar a oferecer novos produtos.

 
Em termos de pesquisa e desenvolvimento, como estão as parcerias realizadas pelo Serpro?

Para trazer a metodologia de aceleração de métodos ágeis para o Serpro, foi realizada uma parceria com a Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul. Outras parcerias com universidades públicas brasileiras também colaboraram com inovações através da pesquisa e do desenvolvimento junto com a academia. Com a Universidade Federal do Pará realizamos um projeto de engenharia de tráfego de redes e com a Universidade Federal do Paraná, fomos parceiros em um projeto que trata de banco de dados em software livre, especificamente do Postgree para alto desempenho. Passamos a utilizá-lo em nossos produtos, disponibilizados pelo Centro de Informações Serpro (CIS) ou na prestação de serviços para os clientes.

Aproveitando a pergunta, gostaria de enfatizar que a utilização de software livre é uma política de governo que tem trazido grandes benefícios para o Serpro, principalmente acelerando a elaboração de novas ideias e colocando-as em produção. Assim, nós conseguimos criar protótipos mais rapidamente e não precisamos de processos de aquisição de licenças, por exemplo. 

Como surgiu a ideia do Centro de Informações Serpro? 

No ano passado, a empresa mudou a sua visão de futuro e passou a desejar ser um centro de informações. A ideia é
o Serpro poder tratar, fazer análise, armazenar dados com segurança e de forma acreditada para quem vai usar. Que ele tenha a certeza de que os dados não foram alterados de forma maliciosa. Segurança é algo presente nos serviços do Serpro, e obviamente está presente no centro de informações.

No portal “cis. serpro.gov.br”, temos alguns exemplos de serviços, como o Quartzo, que é um barramento de dados que permite acessar fontes de dados independente de onde elas estejam: pode estar no mainframe, ou em plataforma baixa, em um sistema de banco de dados relacional ou num sistema de arquivos. O Quartzo cria uma camada que abstrai o acesso ao dado para que clientes do Serpro possam utilizar, acessando as suas bases, ou dados que eles tenham conveniado com algum outro cliente do Serpro.

A empresa passa a ofertar novos serviços, novas possibilidades de negócio. Essa mudança na visão de futuro faz com que a empresa passe a ser um centro de informações de governo, que deixe de simplesmente atender pedidos e demandas de clientes e comece a oferecer novos produtos.

Com a explosão do número de dados pelo mundo, como o Serpro vem trabalhando a questão do Big Data na organização?

Um dos desafios do Centro de Informações Serpro é armazenar um grande volume de dados. A tecnologia de Big Data serve para fazer análises e obter informações a partir desses dados e um desafio para todas as empresas é trabalhar na redução de custos de armazenamento. Um dos objetivos da Cetec nesses próximos dois anos é construir um Data Lake para o Serpro, forma de armazenar grandes volumes de dados em formatos sem nenhuma agregação. Dados esses que estão no mainframe, nos bancos de dados relacionais de diversos fabricantes, que estão em sistemas de arquivos como Hadoop. Nós criamos um laboratório na Regional do Serpro em Belo Horizonte para trabalhar Big Data Analytics dentro da empresa e construir o arcabouço desse grande Data Lake, que vai fazer parte do centro de informações da empresa.

Inovações de negócios e de tecnologia precisam ter a mesma sincronia? 

Normalmente a tecnologia é descoberta mais rapidamente do que a inovação em negócio, ou a inovação em legislação.
Um exemplo é a certificação digital. A tecnologia de certificação digital apareceu muito antes do que a estrutura ICP-Brasil (Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira). Então, você tem a tecnologia e precisa de um modelo de negócio para atender aquela tecnologia. A mesma coisa acontece na prestação de serviços em nuvem: você pode ter a tecnologia, mas não tem um modelo de negócio adequado, ou legislação adequada. Inovação tecnológica e inovação em negócio devem estar alinhadas, mas inovação em tecnologia vai ser sempre mais rápida do que inovação em negócio.