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Metodologia Ágil e a técnica OKR

Entrevista

Dairton Bassi é vice-presidente da Agile Alliance Brazil, co-criador da Agile Brazil e curador do Agile Trends e do Agile Trends GOV
Dairton Bassi

Dairton Bassi

Liana Silva Cavalcante e Marcia Marina de Souza

Dairton Bassi é vice-presidente da Agile Alliance Brazil, co-criador da Agile Brazil e idealizador e curador do Agile Trends e do Agile Trends GOV. Trabalhou no setor privado, em empresas do mercado financeiro, e-commerce, startups de tecnologia e, também, como consultor implantando metodologias ágeis em empresas de diversos tipos desde startup, empresas multinacionais e também em órgãos públicos. Durante esse período, colaborou para que essas empresas adotassem diversos tipos de metodologias ágeis como scrum, kanban, inclusive abordagens como a técnica Objectives and Key Results (OKR), que é o foco dessa entrevista. A solução serve para definição e acompanhamento de metas simples e mensuráveis.

TEMA – Qual sua opinião sobre o Ágil e sua aplicação no Governo?

O Ágil é cada vez mais uma realidade. O termo ágil surgiu há 15 anos e desde então ele só vem crescendo porque é uma abordagem completamente aderente à dinâmica que o mercado de tecnologia vem assumindo. As tecnologias surgem cada vez mais rapidamente e as abordagens ágeis são completamente aderentes a esse mecanismo, elas permitem que as empresas tenham flexibilidade para se adaptar e adaptar as suas soluções ao que acontece durante o processo de desenvolvimento.

A adoção de agilidade no governo é uma tendência que já está começando a se tornar realidade. Eu tenho visto diversos órgãos públicos já realizando várias práticas ágeis e é um movimento crescente, cada vez mais o governo está se beneficiando de abordagens ágeis. Claro, existem algumas características diferentes do mundo corporativo, mas é completamente aplicável ao setor público.

Que orientações ou dicas que você daria ao Serpro no uso do Ágil?

A dica principal é experimentar. Existem diversas metodologias, muitas práticas ágeis no mercado. Cada empresa, cada equipe e cada projeto acabam se beneficiando de um conjunto diferente de práticas porque são mais aderentes ao contexto que essas pessoas e essas empresas vivenciam. A melhor forma de se beneficiar do ágil é experimentando, tentando fazer mais práticas e, com isso, vai ser mais fácil identificar quais delas funcionam melhor dentro do Serpro, especificamente.

O que é, como funciona e onde pode ser aplicado o Objectives and Key Results (OKR)?

O OKR é uma técnica que permite que as equipes, as empresas e os indivíduos definam objetivos e as formas de acompanhamento desses objetivos. As formas de acompanhamento são os key results, medidas que vão ajudar a saber o quanto elas progrediram, no atingimento de seus objetivos.

Como surgiu o OKR e em quais áreas pode ser aplicado?

Ele surgiu na Intel, criado pelo executivo John Doerr. Depois ele foi para o Google e levou essa abordagem para lá, disseminando-a pelo Vale do Silício. Várias empresas de tecnologia passaram a usar OKR como uma técnica para ajudá-los a atingir seus resultados ou fazer acompanhamento destes.

Pode ser aplicado a qualquer área da empresa. Surgiu nas empresas de tecnologia e no setor de tecnologia, mas é uma abordagem genérica suficiente para se aplicar a qualquer área da empresa porque tem a ver com ajudar a área, a equipe ou empresa a atingir seus objetivos mais rapidamente e também a ter mais visibilidade do progresso.

Quais são os principais conceitos e os diferenciais do OKR em relação a outros métodos de planejamento por resultados?

O OKR é um método que ajuda a acelerar o atingimento. Ele não ajuda a planejar, ou seja, ele não é uma metodologia para ajudar a identificar qual é o melhor caminho a ser seguido, mas sim, uma vez que você definiu o caminho, você chega mais rápido aonde você quer chegar porque você vai traçar objetivos, definir métricas e acompanhar essas métricas.

Quais são as vantagens e os problemas enfrentados com a implantação do OKR? Sua implantação exige algum tipo de investimento?

As principais vantagens são o aumento da transparência e a melhoria da comunicação, pois os objetivos passam a ser públicos dentro da empresa e isso melhora a comunicação e o alinhamento das pessoas com os objetivos da instituição.

O principal problema é o fato de não ser uma abordagem trivial porque não é algo que em um mês ou dois as pessoas vão mudar o jeito de trabalhar e passar a se orientar por esses resultados, isso leva um tempo. Acho que a maior dificuldade, resumindo, é as pessoas se engajarem, terem a cadência e estarem envolvidas no médio prazo com essa abordagem para que se consiga ver os resultados. É uma mudança de médio a longo prazo, não de curto prazo.

No quesito investimentos, eventualmente você pode ter uma ferramenta que vai ajudar no acompanhamento do OKR, mas o investimento é muito mais no sentido de dedicar algumas pessoas dentro da empresa a liderarem a implantação. Talvez trazer um consultor para ajudar a implantação com experiência e capacitação, são esses os investimentos que podem ser necessários.

O que a metodologia traz de benefícios às equipes de trabalho e às empresas?

Os principais benefícios são o alinhamento para as equipes e para as empresas. O alinhamento de todos para chegarem nos mesmos pontos. Então você tem os objetivos da empresa compartilhados, visíveis e conhecidos por todas as equipes e indivíduos da empresa. E aí essas equipes vão definir seus próprios objetivos para ajudar a atingir os objetivos da empresa e não cada equipe definindo seus objetivos de maneira independente. Esse alinhamento é o principal benefício tanto para as equipes quanto para a empresa.

Como o método pode ajudar se implementado em uma empresa pública? Pode citar um exemplo?

O benefício é tão grande quanto em uma empresa privada. Como o OKR não prevê penalização nem remuneração associada ao atingimento dos objetivos, o que acontece é que isso é perfeitamente aplicável numa empresa pública. O que eu vejo é que isso cabe completamente, porém, aqui no Brasil, não conheço nenhuma empresa pública que esteja utilizando o OKR.

Você pode citar algum caso de sucesso no mercado de tecnologia da informação? Em casos de não sucesso, qual foi ou foram os fatores responsáveis pelo mau resultado?

O Google, o Twitter e o LinkedIn são exemplos de empresas globais que têm usado essa abordagem. Aqui no Brasil, empresas como Locaweb e Dígito Brasil são empresas que vêm praticando e utilizando OKR no seu dia a dia.

Quem não consegue atingir resultados é porque não conseguiu engajar as pessoas, não conseguiu ter pessoas dentro da empresa para levantar essa bandeira, ajudar a criar essas métricas e fazer esse acompanhamento. Então isso acaba resultando em uma falta de engajamento. Esse é o fator responsável pela falta de resultados.

Existe literatura ou curso que capacita pessoas para o OKR?

Tem alguns cursos no Brasil. Na literatura, o livro Radical Focus é o livro mais recente e é a principal literatura. Foi lançado há alguns meses, em inglês, e ainda não tem a versão em português. Não tem outras referências sobre o assunto, é um tema relativamente novo que vem ganhando espaço. Tem muitos relatos empíricos acontecendo, a literatura ainda está se formando.

O método OKR poderia funcionar dentro de uma equipe mesmo que a empresa não seja adepta dessa abordagem?

Funciona, porque a atuação é em um escopo reduzido, mas uma vez que a equipe conheça o que é importante para ela e onde ela quer chegar, então ela pode definir seus objetivos, definir seus resultados e pode implementar. No caso de outras equipes começarem a utilizar a abordagem, o que vai acontecer é que haverá várias equipes usando OKR localmente, mas não estarão orientadas pelos objetivos da empresa. Cada equipe observará os seus resultados, mas cada uma pode estar indo numa direção diferente. É possível usar numa equipe só, a única ressalva é o alinhamento dos objetivos.