Você está aqui: Página Inicial > Tema > Entrevistas > Metade dos domicílios brasileiros acessa a internet

Notícias

Metade dos domicílios brasileiros acessa a internet

Entrevista

É o que revela a pesquisa TIC Domicílios, feita por centro ligado ao Comitê Gestor da Internet
Foto: Divulgação/NIC.br Winston Oyadomari, coordenador da pesquisa

Winston Oyadomari, coordenador da pesquisa

Ricardo Bahia

A “TIC Domicílios – Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros” completa dez anos com amostra de 19 mil residências em todas as regiões do país, inclusive áreas rurais. É realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) de forma gratuita e traz diversos dados sobre a utilização da rede mundial de computadores pela população.

Ela aponta, entre outros dados, que de 2011 a 2014 mais que triplicou a proporção de brasileiros que usam a internet pelo telefone celular: 47%, quase o total de usuários de internet no país. Existe também a proporção dos usuários que utilizam apenas o telefone celular e não utilizam o computador; um em cada cinco usuários de internet a utilizam apenas no telefone celular.

"47% das pessoas no Brasil usam celular para acessar a internet"

Fonte: TIC Domicílios

Para falar da TIC Domicílios, a Revista Tema entrevistou o coordenador da pesquisa, Winston Oyadomari. Ele é bacharel em Administração Pública e trabalha como analista de Pesquisas do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação no Cetic.br.

O Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, Cetic.br, é um departamento do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), que implementa as decisões e projetos do Comitê Gestor da Internet no país.

TEMA – Como está o acesso à internet no Brasil?

Winston – No ano de 2008, 18% dos domicílios acessavam a internet e hoje, 50% dos domicílios têm acesso. Apesar desse aumento para metade dos domicílios brasileiros, o avanço não mitigou as desigualdades que estão presentes desde o início da série de pesquisas: existe o avanço, mas os sinais de desigualdade são persistentes. É como um copo com água pela metade: você pode contar a história do copo meio cheio ou do copo meio vazio. E a coincidência do percentual de 50% ajuda bastante nisso. Há a questão das desigualdades entre as regiões do país, e também o tipo de conexão e a velocidade nos domicílios conectados. É importante contar as duas histórias: tanto do copo cheio, quanto do copo vazio. Tem muita coisa interessante acontecendo nos domicílios que estão conectados.

O wi-fi, por exemplo, está muito presente e isso revela o quanto os domicílios estão tendo que se adaptar à ideia de múltiplos dispositivos conectados ao mesmo tempo, e isso coloca mais demanda sobre a qualidade da conexão e a largura da banda. O que acontece é que, às vezes, só se conta essa história, a do copo meio cheio e não se conta a história do copo meio vazio. Não vejo como falar sobre história do cenário da internet no Brasil sem contar as duas histórias ao mesmo tempo. Ainda temos muita gente excluída desse processo.

O Cetic tem um projeto, o “TIC-Provedores”, que investiga o provimento de acesso à internet no Brasil do ponto de vista das empresas provedoras. Um projeto bastante interessante que pode jogar luz sobre essa discussão de acesso à internet no país.

O que contribuiu para o aumento de uso da internet?

Isso tem a ver com a forma como as operadoras passaram a disponibilizar acesso pré-pago cobrado por dia. Quando o desembolso passa a ser diário, com valor menor do que uma assinatura, aumenta o uso. É um fator que fez com que as pessoas passassem a usar a internet pelo telefone celular, além da questão da renovação dos aparelhos smartphones.

De 2011 a 2014, mais que triplicou a proporção de brasileiros que usam a internet pelo telefone celular: 47% da população, quase o total de usuários de internet no país. Existe também a proporção dos usuários que utilizam apenas no telefone celular e não utilizam no computador. Um em cada cinco usuários de internet utilizam apenas no telefone celular.

"Uso da internet por faixa etária no Brasil:
De 16 aos 24 anos, 83%
De 25 aos 34 anos, 69%
De 45 a 59 anos, 34%
Acima de 60 anos: 15%"

Fonte: TIC Domicílios

Quais as diferenças de acesso nas regiões do país?

Há diferenças, por exemplo, entre as áreas urbanas e rurais. Enquanto nas áreas urbanas, 54% dos domicílios têm acesso à internet, na área rural são apenas 22%. É uma distância importante, analisando esses dois recortes entre as áreas urbana e rural. Isso faz com que a gente pondere sobre os motivos pelos quais essa distância existe.

Houve inclusão de classes sociais?

Houve um aumento no uso da internet na classe C, mas é claro que ainda existe uma distância muito grande entre as classes sociais.

Quais os principais problemas de acesso?

Há a questão de preço: o serviço de acesso à internet, com assinatura mensal no domicílio, ainda tem um preço proibitivo. A gente deve lembrar que nem todo domicílio tem computador, metade ainda não tem. A pesquisa apontou que metade tem computador e metade tem internet. Nem todo domicílio que tem computador tem internet, e nem todo domicílio que tem internet tem computador. Para os domicílios que não tem internet, os motivos mais citados têm a ver com preço, com não ter computador, a falta de interesse e, em especial nas áreas rurais, existe também a questão da disponibilidade do serviço, ou seja, não tem internet porque não tem como contratar um serviço de internet. Preço, indisponibilidade e desinteresse são então as três dimensões para não acessar a internet.

Como está a inclusão digital no Brasil, se comparada com outros países?

Em comparação a outros países da América Latina, o Brasil fica em 4º lugar. O Uruguai, por exemplo, que ocupa a primeira posição, tem uma política muito forte de distribuição de computadores nas escolas. Lá, todos os alunos das escolas públicas têm acesso ao computador, é o Plano Ceibal (Conectividade Educativa de Informática Básica para o Aprendizado On-line). Em 2º lugar, vem a Argentina; depois o Chile e o Brasil. Existe também toda a questão da dimensão continental do Brasil, o número de habitantes etc.

E a capacitação de pessoas para o uso da internet e suas ferramentas?

O telecentro é uma política de governo que cumpre um papel fundamental de formação de habilidades para o provimento de cursos com o apoio de monitores que podem tirar dúvidas. Existe uma distância de faixa etária no uso da internet. E quando você pergunta para as pessoas por que elas não utilizam a internet, além do que já mencionei, apontam a questão da habilidade: não usam porque não sabem usar a internet e colocam a questão como um medo, como se dissessem: "Isso não é para mim, para pessoas da minha idade. Isso é coisa para gente jovem”. O motivo mais citado para não usarem a internet foi esse: falta de habilidade, e depois vem a falta de interesse.

Na pesquisa de 2014 foi a primeira vez que a variável de dispositivos foi coletada. Essa é uma discussão bastante recente para o Cetic e nós estamos começando a entender as implicações disso. Mas o que fica claro é que o repertório das atividades do indivíduo que utiliza o telefone celular é menor do que o repertório das atividades daquele indivíduo que consegue conviver entre os diferentes tipos de dispositivos. Isso tem a ver com a dificuldade de levar infraestrutura como um todo para o país, para municípios mais remotos, com menor população nas áreas rurais. A gente sabe que o desenvolvimento social no Brasil convive com essa dificuldade.

Mais detalhes em:
www.cgi.br/
cetic.br/pesquisa/domicilios/indicadores

TIC Domicílios (PDF)