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Reorganizando as contas
Entrevista
Alexei Kalupniek
No fim de maio do ano passado, a diretora-presidente Glória Guimarães assumiu a liderança do Serpro em um contexto especialmente desafiador: em 2015, a empresa havia acumulado um prejuízo de R$ 355 milhões. Nesses nove meses de gestão, houve programa de melhoria dos gastos com reestruturação organizacional e a proposição de novos negócios. A empresa tem se recuperado, mas ainda um apresenta deficit de R$ 159,6 milhões e enfrenta o desafio de zerar as contas ainda neste ano. Confira a entrevista.
TEMA – Em 2016, foi possível uma redução dos prejuízos sofridos pelo Serpro. Qual foi a estratégia adotada?
Glória Guimarães - Um dos fatores que contribuíram foi o aumento de receitas, de cerca de 90 milhões, proveniente dos novos negócios da empresa. Ao mesmo tempo, conseguimos receber da maioria dos nossos clientes que estavam em atraso. Também houve mais serviços e tivemos mais contratos este ano. Alguns exemplos são os novos contratos envolvendo os Departamentos de Trânsito (Detrans), Gestão de Margem Consignável e serviços de informação. De forma geral, a empresa conseguiu um aumento de 13,3% de receitas.
Os deficit foi reduzido de R$ 355 milhões para R$ 159,6 milhões. Para promover a diminuição dos gastos houve, ao longo desses nove meses de trabalho, uma reformulação na estrutura organizacional. Também promovemos o programa Ações de Preparação para a Aposentadoria, renegociamos contratos e revisamos o parque tecnológico e a rede em busca de economia, sem contudo, afetar a qualidade dos serviços. Tudo isso trouxe uma melhora de caixa e uma redução do deficit no nosso desempenho econômico. A expectativa é de que, em 2017, empatemos despesas e receitas, para que, em 2018, comecemos a crescer.
A estrutura da empresa tem sido alterada para evitar problemas como duplicidades nas atribuições, excesso de chefias e má distribuição de recursos. Um exemplo foi a reformulação nas gratificações das chefias e a redução do número de áreas. Alguma previsão para novas mudanças?
O objetivo principal de termos realizado esse trabalho é principalmente a redução de custos, depois foi o de criar uma padronização, um critério, uma classificação que viesse a permitir a meritocracia dentro da empresa. Continuamos com essa revisão em algumas áreas.
Quanto às novas mudanças, temos a previsão de alterações na amplitude de comando, para evitar um problema muito reclamado pelo empregados que é o de chefias nenhum funcionário. Tudo feito com muita tranquilidade, respeitando o que as pessoas têm, mas procurando buscar adequação e transparência organizacionais.
"A expectativa é de que, em 2017, empatemos despesas e receitas, para que, em 2018, comecemos a crescer."
Glória Guimarães
No ano passado, conseguimos cerca de R$ 90 milhões de receitas com clientes fora do Orçamento Geral da União. Temos perspectivas de uma expansão ainda maior?
Sim. O nosso planejamento estratégico prevê, para 2017, um faturamento de cerca de R$ 2,7 bilhões. Uma receita que deve surgir principalmente da venda de serviços de informação e nuvem. Temos capacidade para disponibilizar produtos rapidamente nessas novas linhas.
Continuamos com o modelo tradicional, sob demanda, em que o cliente pede e nós atendemos. Porém, também criamos uma aceleradora para disponibilizar os produtos de forma mais eficiente. Temos usado muito a metodologia ágil, com o aumento da participação dos clientes, da melhoria do negócio e da rapidez na entrega de soluções. E a previsão é de que a empresa, em 2017, ainda venha melhorar mais ainda esse tempo de entrega.
Um dos diferenciais dos sistemas produzidos pelo Serpro é a segurança. Há previsão de investimentos para tornarmos as soluções da empresa ainda mais seguras?
Temos toda uma garantia de segurança para o cidadão. É um trabalho muito forte nessa linha. Acredito que uma das prestações de serviços mais seguras do Brasil é o Serpro, mesmo quando comparado às instituições bancárias. E continuamos investindo em segurança: a previsão para este ano é de um investimento de 140 milhões em hardware e software, para evitarmos a obsolescência.
É claro que, tanto a segurança quanto a disponibilidade (que hoje é de 99,8% na maioria de nossos sistemas), acabam se refletindo na precificação. Temos um alto custo com a infraestrutura para garantir que os sistemas sejam seguros e ao mesmo tempo fiquem no ar. Mas estamos sempre buscando reduções, seja através de melhorias no processo de infraestrutura, seja realizando vendas em maior escala, o que permite um preço final mais baixo.
Uma das características da sua administração tem sido as visitas a diversas regionais, onde você conversa diretamente com os empregados. O que você trouxe a partir dessa interação com os colegas da empresa?
Dado que a empresa, neste momento, se encontra numa situação complexa, tais como: determinação do TCU para não receber aporte, prejuízo financeiro, dentre outros, necessitamos da participação e engajamento de todos para garantir a sua sustentabilidade.
Eu, particularmente, estou indo às regionais mostrar a realidade, estabelecer um diálogo e convocar os colegas para que caminhemos juntos. Ouvimos várias sugestões, algumas já foram implementadas, como a questão da incorporação da gratificação fora da via judicial ou a jornada de seis horas. Outras, como queixas sobre a amplitude de comando e critérios para gratificação, estão sendo trabalhadas. Ideias de pessoas das regionais, que conhecem a fundo os nossos sistemas, também têm sido utilizadas para os novos negócios. É bom também destacarmos que tivemos um planejamento estratégico participativo. Tudo isso nos lembra que a empresa não é da diretoria. Todos nós fazemos o Serpro.