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Inovação: Fritando o peixe com o olho no gato!
ARTIGO
A tecnologia da informação (TI) não existe apenas para atender às demandas atuais. Para sobreviver no longo prazo, é preciso usar TI para encontrar novas formas de ganhar dinheiro também. É fundamental buscar soluções digitais que tragam inovação em modelos de negócio. Este é o foco no mundo da TI hoje.
Inovar significa, essencialmente, mudar. E a necessidade de mudar pode provocar conflitos nas empresas.
De um lado, ganha-se dinheiro entregando produtos e serviços. Quanto mais se domina o processo produtivo, maior a probabilidade de um negócio sustentável a longo prazo. Neste contexto, inovações incrementais que tragam melhoria gradual ao negócio são bem aceitas, porque aumentam a eficiência e o desempenho. As mudanças radicais, no entanto, podem ser vistas como ameaça à estabilidade das operações que garantem o “ganha pão” da empresa.
Do outro lado, o mundo está em intensa mudança. A expectativa dos clientes e da sociedade em relação aos serviços muda muito rápido. Ao longo do tempo, só sobrevivem as empresas que têm a capacidade de inovar e adaptar-se a estas novas demandas. Que ver um exemplo?
Há bem pouco tempo, chamar um táxi só era possível de 2 formas: estendendo a mão; e ligando para uma central. As centrais de táxi viviam em estabilidade e dominavam o mercado. A não ser por transportes clandestinos ou alternativos (bicicleta, moto-táxi), o segmento pouco sofria ameaças.
Com a popularização dos smartphones, uma mudança tecnológica que não tinha a ver com o negócio “transporte”, os aplicativos para solicitar táxi tendem a extinguir as centrais, que não perceberem o movimento e não se modernizarem. Para os taxistas, de um jeito ou de outro, a corrida estava garantida. Agora, surgiu o Uber, trazendo um modelo de negócio disruptivo e pondo “em cheque” o sistema. Estamos de camarote acompanhando o desfecho dessa novela.
O desafio para as empresas está em conciliar os dois mundos, aparentemente contraditórios:
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manter-se eficiente, fazendo mais e melhor no dia a dia, porque isto trará competitividade e desempenho; e, simultaneamente,
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inovar adotando modelos novos de negócio, que viabilizem a adaptação às mudanças radicais no ambiente externo.
Em resumo, o desafio é inovar “fritando o peixe com o olho no gato”.
Uma maneira de conciliar os dois mundos é usar uma abordagem TIBimodal, termo cunhado pelo Gartner, que sugere a convivência entre dois modos de TI: TI tradicional, que assegura eficiência na rotina das operações; e TI experimental, que é mais dinâmica, focada em novidades que impulsionem novos negócios.
O modo TI tradicional valoriza processos, desempenho, segurança e precisão. Neste modo, a inovação é incremental e evoluções tendem a ser contínuas. O modo TI experimental é focado em agilidade e flexibilidade, valorizando-se experimentação. Aqui, a inovação é disruptiva e a evolução acontece em saltos.
Os dois modos coexistem e se complementam, pois ambos trazem grande valor para empresas. Porém, para que a abordagem TI Bimodal tenha sucesso, são críticas uma convivência e uma transição bem delineadas entre eles. Cultura, técnicas, conhecimentos e habilidades precisam ser pensados e adequados para cada modo.
Visualizar dois modos, apesar de ser uma simplificação, ajuda a praticar inovações disruptivas. Deixa claro que é preciso reservar dinheiro, tempo e “massa cinzenta” para trabalhar em protótipos, em prospecção. É necessário criar um ambiente para ousar, para experimentar com agilidade e o máximo de riscos possível. O aprendizado é o resultado mais importante. O “erro bom” não é penalizado. No modo TI experimental, o pessoal de pesquisa e negócio, clientes e não clientes devem trabalhar juntos. Neste ambiente, acima de tudo, pergunta-se!
Quando um novo negócio é encontrado, testado e viável, é natural buscar ganho de escala e ampliação de receitas. Neste momento, as características do TI Tradicional são de grande valia. Será melhor oferecer os serviços novos em operação contínua e escalá-los, garantindo a eficiência operacional. Essa “passagem de bastão” deve ser bem planejada e executada, permitindo: que o serviço opere e cresça em segurança; e, ao mesmo tempo, garantindo recursos para buscar a próxima disrupção, em um ambiente que permita arriscar, sem comprometer o negócio do dia a dia.
Para as empresas, é natural investir seu orçamento nos negócios atuais, naquilo que agrega valor a serviços já garantidos. Mas, quanto dos seus recursos uma empresa investe para experimentar? Quem olha para o ambiente externo em busca de tendências, tecnologias novas e oportunidades? Quem está pronto para gastar 1 ou 5% do orçamento, correndo o risco de não conseguir o resultado financeiro desejado?
Visualizar dois modos ajuda a entender que os dois ambientes são igualmente fundamentais. Que se 1% está investido em projetos incertos, 99% está protegido no outro modo, aquele de lucro mais confiável. Se a empresa perder todo o 1%, o impacto é muito pequeno. No entanto, é experimentando que a empresa pode encontrar uma “nova galinha dos ovos de ouro”, e conseguir se manter competitiva e ser capaz de surfar as novas ondas. Afinal, estar exposto a riscos é também estar aberto a grandes oportunidades!
Serge Rehem é especialista em Sistemas Distribuídos pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Está no Serpro, na Coordenação Estratégica de Tecnologia (Cetec), na Regional Salvador, desde 2006. Praticante e disseminador da filosofia ágil, está sempre buscando oportunidades de inovar e fazer diferente.
Viviane Malheiros é doutora em Ciência da Computação pela USP e Project Manager Professional (PMP). Foi pesquisadora visitante na University of Maryland, Baltimore County, EUA. No Serpro, na Coordenação Estratégica de Tecnologia (Cetec), trabalha com pesquisas aplicadas e inovações tecnológicas. Hoje, coordena o projeto estratégico ProÁgil. Interessada em inovação, gosta de aprender e aplicar coisas novas.