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Via de acesso ao conhecimento
O objetivo
deste texto é refletir sobre o papel do software livre em um
ambiente educacional. Nesse contexto, o mais importante são os valores
fundamentais desta filosofia: liberdade de conhecimento, liberdade de
uso, colaboração e compartilhamento.
O objetivo principal da
universidade não é a formação de um simples profissional “apertador de
botões”, que só sabe trabalhar com um software específico,
produzido por uma única empresa (a rigor, isso não se chama
“profissional”; isso se chama “cliente”!). O objetivo principal da
universidade é, antes de tudo, a formação do cidadão crítico,
consciente, capaz de pensar por si próprio; de forma complementar,
busca-se a formação de um profissional completo, que realmente domine
os conhecimentos da sua profissão.
Quando uma disciplina usa software
proprietário como base de suas atividades, é simplesmente isso: um
“uso”, uma “ferramenta”. O aluno aprende e exercita os conceitos
através dessa ferramenta, e é só. Alternativamente, se a disciplina
baseia suas atividades em um software livre, um novo leque de
oportunidades se abre para enriquecer a experiência dos alunos: pode-se
ter acesso à versão completa do software, a mesma que está
sendo utilizada “pra valer” ao redor do mundo, e não a uma simples
versão educacional, trial, ou, o que é pior, pirata; pode-se ter acesso
a vários softwares diferentes, para estudar e comparar suas
vantagens/desvantagens; pode-se ter acesso a uma quantidade enorme de
material de referência, disponível gratuitamente na internet; pode-se
confiar que esse material contém informações completas, já que não há
segredos disponibilizados apenas pela empresa proprietária do software,
em materiais de referência também proprietários e vendidos a preço de
ouro. Para os mais curiosos, existe a possibilidade de estudar a
própria implementação (código-fonte) do software — o que
significa não apenas aprender a configurar e usar um certo recurso, mas
sim a implementá-lo na prática.
Acima de tudo, há a possibilidade de colaboração, de participação
direta dos alunos no desenvolvimento do software,
por meio da criação de novos materiais de referência, utilizando e
registrando defeitos ou até os consertando. Em resumo, isso tudo
significa verdadeiro acesso ao conhecimento. Concluo, portanto, que a
adoção do software livre é fundamental para se conseguir uma verdadeira
ação educativa, com acesso irrestrito ao conhecimento. Nesse sentido, é
necessária uma parceria entre professores e alunos com o objetivo de
operacionalizar cada vez mais a adoção do software livre nas diversas
disciplinas dos cursos de Ciências da Computação e até mesmo de outros
cursos.
Precisamos tomar uma decisão importante: queremos virar cidadãos críticos e profissionais completos, verdadeiros “cientistas da computação”, ou nos contentaremos apenas com a função de “clientes”, meros “apertadores de botões”? A escolha é nossa! *Professor da Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus (BA). http://starfightercarlao.blogspot.com
Revista A Rede, número 37, Carlos José de Almeida Pereira*, junho de 2008