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Encontros de gerações

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Desafio da década foi harmonizar convivência entre recém-chegados e profissionais com mais tempo de casa

Era uma tarde de abril de 2009, quando um presente inusitado chegou às mãos de cada integrante da Gestão de Pessoas de Belo Horizonte: uma caixa de doces de leite. Logo depois, o gerente Heleno do Carmo de Souza (abaixo) recebia uma placa de prata gravada com agradecimentos, em nome da equipe. A carinhosa homenagem foi motivada pela satisfação das 30 pessoas que ingressaram no Serpro naquele período e se sentiram especialmente bem recebidas, relembra a analista Luana Cristina Varejão, da Supde belo-horizontina.

“Foi tudo descontraído, tivemos várias reuniões para ter noções do trabalho, da empresa. A gente se entrosou bem com os colegas. Conhecemos a regional e chegamos a visitar o teto do prédio com o pessoal da Logística, algo que jamais faríamos se não fosse numa situação dessas”, relembra a analista.

Heleno recebe placa de agradecimento, em nome da equipe SupgpEsse retrato de ambientação bem-sucedida ilustra um aspecto que o Serpro vive intensamente de 2004 até hoje: o encontro entre gerações. Um dos grandes desafios que a empresa encarou foi a integração entre as pessoas com muito tempo de casa e um contingente crescente de concursados que foi se incorporando ao quadro funcional.

“O Serpro passou muitos anos sem contratar. Mas a partir de 2004, a contratação de pessoas foi numa linha crescente, e isso foi interessante porque apontou que o  governo traçava um novo rumo para a empresa”, relembra Heleno, em entrevista concedida um dia antes de se aposentar, deixando o Serpro após 35 anos de serviços prestados.

“Mistura” positiva

Antes da era dos concursos, a dinâmica de contratações era outra: o Serpro admitia as pessoas com testes mais
diversificados e formava sua mão de obra à medida que as necessidades se apresentavam, conforme reportamos
em diversas edições anteriores desta GPS. “Era comum que as pessoas fossem admitidas para exercer funções básicas e depois se tornassem especialistas, mudando de área internamente. O Serpro, até então, formava profissionais às vezes a partir do conhecimento básico em tecnologia, área que também estava em transição acelerada. A empresa chegava a construir equipamentos, providenciando tudo para que houvesse condição de atender aos clientes”, relembra o gerente.

“Hoje isso mudou”, aponta Heleno. “As pessoas chegam já com formação, devido aos requisitos de ingresso via concurso. Muda substancialmente a forma de se relacionar, e a empresa viveu o impacto, nem sempre positivo, do encontro entre “antigos” e “novos”. Mas o tempo provou que isso foi apenas uma fase, necessária ao processo de renovação. Hoje a '‘mistura’' se dá de forma mais positiva. As pessoas que chegam são rapidamente incorporadas.

Márcia (de rosa), com colegas de trabalho: empresa também tem papel de cativar quem trabalha nelaPara Márcia Brandão (ao lado, de rosa), da UniSerpro Belém, a nova leva de concursados trouxe o desafio de conservar talentos na empresa. “Numa época anterior, conseguir um emprego era pra vida toda. Hoje, cada um já traz uma expectativa maior em relação a desafios e também em relação à autonomia. A empresa tinha uma hierarquia mais rígida, era cada um em seu cubículo; hoje a própria disposição dos ambientes mudou, é tudo aberto, o
que também propicia uma integração maior”,  destaca a colega da UniSerpro.

 

Escolaridade maior e teletrabalho

A concorrência presente nos concursos públicos também acentua outra característica da nova geração: o nível de escolaridade de ingresso é cada vez mais elevado. Quem aponta esse aspecto é Luiz Edmundo Alves Moreto (abaixo, de pé), da UniSerpro, que participa da organização do ConSerpro (Congresso Serpro de Tecnologia e Gestão aplicadas a Serviços Públicos), desde que o evento foi criado.

Ricardo Telemberg, Ana Lúcia Carvalho, Ricardo Bahia e Luiz Moreto: equipe organizou ConSerpro em sucessivas edições“De 2007 para cá, noto que cada vez mais são recém-contratados os que mais enviam trabalhos para o congresso. Isso porque temos cada vez mais gente que já entra na empresa com mestrado, doutorado, até pós-doutorado. Pessoas com bagagem acadêmica e acostumadas a fazer pesquisa”, avalia Moreto.

É o caso de Luciana Brassolati, que atua hoje na Supgs, em São Paulo. Luciana entrou na empresa em 2005, aos 34 anos. Ao chegar ao Serpro, já havia feito mestrado, ministrado aulas em universidades particulares e públicas e trabalhado em multinacionais. Inicialmente da área de desenvolvimento, migrou para a área de Gestão de Serviços e hoje é uma das pessoas que trabalham remotamente, como teletrabalhadora, outra característica da década atual. O primeiro edital de teletrabalho foi aberto em 2005 no Serpro. “Minha produtividade e, principalmente, criatividade, aumentaram nesse período em que trabalho em casa”, diz Luciana.

Especialização contínua

Se, por um lado, as pessoas já chegam com maior nível de conhecimento formal, de outro o Serpro também se alinha às necessidades contemporâneas oferecendo incentivo para que empregadas e empregados continuem a estudar – e as pessoas aceitam, sim, o desafio de continuar se autoaprimorando. Lucas Alberto Santos (abaixo), da Ceago em Porto Alegre, faz parte desse perfil. Já graduado, migrou para o Sul devido a uma oportunidade de continuar estudos em mestrado. Recentemente assumiu um cargo de chefia em 2014, ainda durante o período em que participava de uma pós-graduação interna, oferecida pelo Serpro em parceria com a Universidade de Brasília.

Lucas (em pé), durante aula de pós-graduação: preparo para a função de gestor“Participar da pós foi uma experiência muito rica de aprendizado, não só científico, mas também de relações pessoais e para entender melhor como é que funciona a empresa. Foi fundamental para me ajudar a assumir essa tarefa nova de gestor”, relata. “Acho muito importante que a empresa tenha programas de capacitação do corpo funcional. Se a empresa quer ser mesmo inovadora, tem que seguir essa linha”, enfatiza.

Outro participante do mesmo curso de pós-graduação, Jean Marcel Weber, da Supgf de Porto Alegre, destaca que a realização de aulas, em um curso itinerante, proporcionou a visita a cada uma das onze regionais do Serpro. A metodologia foi decisiva para compreender melhor os desafios da empresa. “O convívio com colegas oriundos das mais diversas áreas da empresa engrandeceu ainda mais todo o processo de amadurecimento profissional e pessoal”, avalia.


Conhecimentos complementares

Heleno de Souza, de Belo Horizonte, Márcia Brandão, de Belém, e Luiz Moreto, do Rio, são os três colegas com mais tempo de casa entrevistados nesta reportagem. Todos se mostram entusiasmados, até pelo envolvimento com a área de desenvolvimento de pessoal, em perceber que a nova geração chega “mais estudada” na empresa. E também comemoram outras mudanças que caracterizam a era atual, como a hierarquia menos rígida ou a permissão de os homens trabalharem vestindo bermuda. “Antigamente, mulheres na área de informática deviam ser uns 5%, hoje você vê muitas em cargo de chefia, uma conquista importante”, exemplifica Moreto.

Por outro lado, os três entrevistados também enfatizam aspectos do Serpro “de ontem”, que são bastante positivos. “Ouvir as pessoas mais antigas também é importante. Às vezes a pessoa nova tem muito conhecimento teórico. Mas quem tem mais tempo de casa sabe mais dos sistemas, do cliente, do próprio funcionamento da empresa. São dois tipos de conhecimentos, que tem que andar juntos”, resume Moreto. Márcia Brandão concorda e destaca outro aspecto: “O desapego, o estar de passagem, pode ser bom ou ruim. Numa época anterior, entrar no Serpro era decidir o emprego de toda uma vida. Hoje, não. Então, cabe à empresa conquistar as pessoas que estão chegando, e criar um ambiente que propicie oportunidade de realização para todos”. Sem dúvida, um desafio que continuará valendo durante as próximas décadas.