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A força da vontade

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Colegas que enfrentaram grandes desafios pessoais

O poeta Carlos Drummond de Andrade registrou numa frase simples, exaustivamente repetida, aquilo que toda pessoa que chegue à fase adulta está fadada a vivenciar: um acontecimento que é como uma pedra no caminho. Algo que nos desafia a ir além dos problemas rotineiros e nos obriga a achar novas forças. A imensidão e poder dessas “pedras” muitas vezes nos paralisam, mas há sempre uma hora em que algo, internamente, nos convoca à superação.

Pensando no quão universal é essa experiência, a reportagem da GPS foi buscar alguns depoimentos entre colegas do Serpro que já vivenciaram desafios pessoais dignos de nota. Encontramos quem lutou contra uma doença ameaçadora, quem vive a superação de um acidente, gente que precisou mudar um comportamento e se ressignificar.

São seis histórias de pessoas que superaram obstáculos em suas jornadas e, corajosamente, toparam dividir a experiência conosco. Para operar a mudança, há as que recorreram à fé e as que se firmaram na razão, mas todas as trajetórias convergem em um ponto: enfatizam a potência da força da vontade. Confira:

Belo Horizonte: Tudo muda num instante

Belo HorizonteLisiene Santos, analista da Supde de Belo Horizonte, tem 33 anos. Numa tarde de 2013, dia que considera o pior em toda sua vida, ela recebeu o diagnóstico de câncer de mama. E tudo começou com um simples autoexame. "Engraçado que eu não me preocupei muito, achei que fosse um edema. Foi o meu marido que me pediu para procurar um médico", explica.  Apesar de inicialmente arrasada com a descoberta, Lisiene diz que reagiu bem à notícia. "Não adianta se prostrar e esmorecer, você ainda está vivo e deve lutar até o fim. Até o início do tratamento, procurei me manter ocupada, para não ficar ociosa e pensando besteira", relata.

Segundo os médicos, era um caso mais agressivo e raro. A doença já estava começando a se espalhar, o que exigiu um tratamento pesado. Cirurgia, quimioterapia, radioterapia. Baixa imunidade, queda de cabelo, cansaço. O caminho era complicado, mas a travessia foi realizada. A ajuda da família e do marido, a disciplina na dieta e a força de vontade foram, segundo ela, os principais combustíveis dessa jornada.  "Quando eu saí da sala da radioterapia, na última sessão, lembro que comecei a dançar e cantar. O pessoal começou a rir de mim e bater palmas. No dia seguinte, já estava de volta ao trabalho. Senti um alívio muito grande de poder voltar a pensar no futuro sem nenhum fantasma", relembra.  A experiência também trouxe aprendizados: "Percebi que sou mais forte do que poderia imaginar. Aprendi a ser mais paciente. Percebi também que é inútil planejar o futuro meticulosamente, você nem sabe se estará vivo amanhã. Melhor é aproveitar ao máximo o hoje e construir o futuro no dia a dia", compartilha.

Brasília: Escrita terapêutica

BrasíliaA história de Alcélia Maria Silva Moraes comoveu muitas pessoas dentro do Serpro, para além da UniSerpro, área na qual atua. A maneira valente como vive seu destino chegou a ser objeto de reportagem recente em jornal do Distrito Federal. Única sobrevivente do acidente de carro que matou o marido, a filha e um casal de amigos, o desafio de Alcélia é o de superar a dor da perda irreparável ao lado do filho.  Alcélia sobreviveu e agora, literalmente, está “contando a história” em uma brochura compartilhada com os amigos.

Escrever tem sido um dos recursos utilizados para superar a dor que restou, explica a colega. Pela escrita, reelabora os sentimentos que a ocupam desde o dia em que perdeu seus entes queridos, naquele 29 de setembro de 2013.
  “Nesses dois anos encontro-me em permanente aprendizagem, crescendo como pessoa, reaprendendo a viver”, diz. Com poucas sequelas físicas, os danos maiores são emocionais. O carinho do filho Rodrigo e o apoio da família e dos amigos têm sido valiosos. Mas é a fé em Deus, ressalta, que torna a dor suportável. “O conforto das orações tem sido minha força e sustentação. Sentir Deus mais próximo me faz seguir em frente”, ressalta Alcélia.

Curitiba: O baque e a recuperação
Curitiba
Uma consulta de rotina para tratar uma gripe persistente, em 2012, trouxe um choque para Francisco Eziquiel, gerente da GP de Curitiba. Um valor muito fora do normal para um marcador hormonal iniciou uma bateria de exames e terminou com sua endocrinologista dando uma notícia perturbadora: fora diagnosticado câncer na tireoide. “Quando saí do consultório, fiquei sem chão”, disse Francisco, que não tinha ideia que tinha a doença, até então assintomática.

Felizmente, o diagnóstico fora feito antes que o mesmo pudesse se espalhar para outros órgãos do corpo. Um cirurgião que a médica recomendou disse que aquela era a hora de operar. Em poucos dias, Francisco voltou pra casa sem metade da glândula hormonal, mas feliz por ter superado a doença. “Hoje vou ao médico a cada seis meses, tomo meus remédios, mas felizmente não tive mais nada”, diz, ressaltando que a realização de consultas periódicas pode salvar vidas.

Florianópolis: Olé no sedentarismo
Florianópolis
Quem vê Clóvis Tomadão subindo a pé o íngreme morro da Regional Florianópolis não imagina o quanto ele já foi sedentário. Encarar aquela subida, era só de ônibus ou de táxi. “Os taxistas do ponto já me conheciam. Era o gordinho do Serpro”, revela. Isso mudou há um ano e meio, quando o colega resolveu mudar a alimentação e dar um chega pra lá no sedentarismo. O estímulo veio do medo de piorar ainda mais sua saúde. Ele sofre de hipotireoidismo e
fora detectado alto grau de gordura visceral, então começou com a alimentação. Parou de comer em churrascaria todas as semanas e passou a se alimentar em casa. “No restaurante eu não conseguia me segurar. Em casa, eu reduzia sal e gordura e comia salada”, justifica. O álcool também foi banido do cardápio, porque, nas palavras dele “não hidrata e só engorda”.

Com a perda de peso conquistada, chegou a hora de começar a fazer exercício. Há cerca de um ano Tomadão começou a pedalar. No início não passava de 4 km. “Hoje eu faço voltas na ilha que duram de três a quatro horas, de bicicleta”, conta. “E tenho capacidade física de fazer o exercício que preciso para gastar toda a energia gerada pelo que eu como”, comemora.
Agora, ninguém mais oferece carona quando avista Tomadão subindo a pé o morro que leva até a regional. “Todo mundo sabe que vou recusar mesmo", diz.

Recife: Amor que inspira a vencer
Recife
Sueli Lira é uma mulher de garra. Em um intervalo de 18 anos, teve que reunir forças para superar dois cânceres. O primeiro, em 1989, afetou o intestino. Embora apavorada, ela lembra que não perdeu as esperanças, mesmo tendo que enfrentar seis ciclos de quimioterapia. A fé e os amigos traziam o conforto necessário para se manter firme diante das dificuldades impostas pelo tratamento.

Durante essa fase, Sueli não abriu mão da sua rotina normal, apesar da aparente perda de peso e da queda dos cabelos. “Eu ia para todo canto careca, não usava lenço. Preferia trabalhar porque era uma maneira de me distrair e ocupar a mente”, relembra. Já em 2007, em exames de rotina, a notícia de mais um tumor. Dessa vez, na mama. Ela não só temeu por sua vida, mas pela da filha, que estava prestes a ser adotada. “Estava com medo, mas foi ela quem me deu vida novamente, que renovou todas as minhas forças”, conta. E foi assim, lutando por duas, que a guerreira Sueli venceu o câncer novamente.

São Paulo: Espera corajosa
São Paulo
A vida de Célia de Sá, auxiliar da UniSerpro, ficou ainda mais difícil quando, aos 16 anos, apareceu-lhe um cálculo renal grave, que evoluiu para uma insuficiência renal crônica na fase adulta. Lenta, progressiva e irreversível, a doença foi marcada por recorrentes infecções urinárias, até que em 2013 veio a falência dos rins. “Fiquei revoltada e me perguntava” por que eu, Senhor?”, conta Célia. Mas com extrema fé e muito otimismo, Célia conseguiu reverter a revolta e aniquilar o temor do amanhã. “Deus sabe a hora certa”, acredita a colega. Ela espera por um transplante, mas não aceita o de familiares em vida – aguarda na fila de doação de órgãos.

No dia a dia, assume uma rotina rigorosa. “Larguei a hemodiálise (processo extracorpóreo de filtração do sangue). Pude escapar da rotina difícil de ir várias vezes por semana ao hospital depois que descobri, por meio de contatos em uma rede social, que poderia fazer isso em casa”, comemora Célia. Agora faz a diálise peritoneal, processo que usa o peritônio (membrana que cobre a parede abdominal) para filtrar o sangue excretando substâncias tóxicas do organismo. Cinco dias por semana, ela e seu marido fazem a assepsia do quarto e, durante 10 horas, enquanto ela dorme, ocorre o procedimento. Célia explica que não admite perder o trabalho por conta disso, e segue na vida, disciplinada e forte, em uma postura esperançosa que só pode inspirar o melhor aos que vivem ao redor dela.