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Caminhos de fé, força e coragem

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Colegas que encararam Santiago de Compostela contam o que trouxeram dessas viagens
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Fernanda Mineiro, Supde de Belo Horizonte

A Santiago sempre se vai, nunca se chega”, diz o provérbio que é logo conhecido pelas pessoas que se propõem a gastar tempo (muitas vezes o precioso tempo de férias) andando, andando e andando. É certo que as paisagens chegam a ser inspiradoras – não é a toda hora que se tem a oportunidade de cruzar os Montes Pirineus, por exemplo. Mas o mais comum é que sejam entre 15 e 25 km percorridos por dia, com uma mochila às costas que não terá menos de 7 kg, mesmo quando se faz o maior esforço para levar somente o necessário. Para evitar bolhas nos pés, há segredos passados de viajante a viajante, como usar duas meias de tecidos específicos, escolher o tipo de calçado correto, nunca umedecer a pele antes de sair para andar e besuntar a sola com Vick VapoRub ou vaselina, para evitar atrito. Ainda assim, é bem fácil achar na internet várias dicas para estourar e tratar as bolhas que insistam em aparecer.

Parece um jeito esquisito de se divertir, mas a fé, ou o desafio e a oportunidade de se colocar em teste e em silêncio, têm um apelo que andarilhos e andarilhas não se cansam de destacar. Colegas do Serpro que fizeram a viagem são unânimes em afirmar que trilhar o “caminho”, a própria experiência de conseguir andar tanto nessas condições, ultrapassa os mais variados atrativos turísticos. Apesar de que há muito que se conhecer, no mais puro estilo “vale a viagem” pelos caminhos que levam a Compostela: de lindas montanhas, vales e bosques até pontes medievais e igrejas românicas e góticas, que lembram muito a ambiência de sucessos como a série Game of Thrones ou os filmes de Senhor dos Anéis.

Caminho nacional

Mas não é preciso se deslocar até a Espanha, França ou Portugal para ter a experiência de fazer uma longa caminhada que chega a um destino religioso. O colega Heleno Alves dos Santos, de São Paulo, é veterano de jornadas em um roteiro que perpassa cidades paulistas e mineiras, desembocando no Santuário de Aparecida. Inspirado no Caminho de Santiago de Compostela, o roteiro a pé também inclui rotas específicas, credencial para quem faz a peregrinação, travessia de montanhas e passagem por muitos recantos bucólicos. Além da tão celebrada oportunidade de superação, autoconhecimento, crescimento espiritual ou tudo isso junto. Confira os depoimentos:

Porto Alegre: Jornada solitária e cheia de gente

Pablo Grigoletti, da Supde em Porto AlegreSe quiser andar sozinho, anda. Se quiser arrumar companhia, é relativamente fácil. E se optar por pernoitar nos albergues ao longo do caminho, a ordem é se preparar para muito conviver: jantar com gente estranha à volta, interagir com pessoas falando diversos idiomas e também dormir em ambientes simples, na companhia de até mais de cem pessoas. Nada inesperado para uma viagem que foge do convencional, explica Pablo Grigoletti, que iniciou o seu caminho de Santiago em abril de 2015, percorrendo cerca de 800 km a pé.

Pablo juntou férias convencionais com outros dias de folga que iam vencer e conseguiu viajar por um percurso longo do Caminho, durante 33 dias. Diz que a partir do quinto dia, o corpo, especialmente os pés, se acostumam com a viagem. Além do prazer do desafio vencido, das paisagens do percurso, do conhecimento de um país estrangeiro, o colega da DE destaca a surpresa ante a generosidade encontrada pela jornada. “Às vezes encontramos bancas com frutas à disposição, em outras há um cofrinho do lado, sem ninguém cuidar para ver se a quantia foi paga. É uma viagem que te renova com uma energia muito boa para voltar ao batente do dia a dia”, destaca.

Recife: Força e fé

Lígia Valéria, da Supde em RecifeMuitos caminhos levam a Santiago de Compostela. Muitos motivos também. Eu escolhi o caminho francês, a partir de Burgos e andei cerca de 500 km. Meu primeiro motivo: a fé. Tinha muita vontade de andar pelos caminhos por onde São Tiago caminhou, um trajeto que há centenas de anos é percorrido em busca de respostas, perguntas, promessas.
Meu segundo motivo: a fé em mim mesma, em saber que sou capaz de me superar e realizar qualquer coisa fora da minha zona de conforto”. É assim que Lígia Valéria, analista da Supde em Recife, vai nos enredando no relato de sua mais recente viagem: a peregrinação a Santiago de Compostela, percurso feito a pé por exatos 535 quilômetros durante 21 dias.

Após a decisão, Lígia programou uma série de atividades físicas para melhorar seu rendimento físico, inclusive caminhadas já carregando a mochila, para se acostumar com o peso. “Foram dias desgastantes, fisicamente.
Mas, espiritualmente, recompensados pelas paisagens, pelos laços de amizades e finalmente pela superação. Todos nós, que já seguimos as setas do Caminho, guardamos um lema no coração: “A Santiago sempre se vai, nunca se chega".

Salvador: Como uma tatuagem

Luciano Borges, da Supst de SalvadorCaminho religioso para uns, místico para outros, esportivo para outros tantos. Santiago de Compostela foi o destino de Luciano Borges, da Supst de Salvador, em setembro de 2012. Buscando um “tempo para si mesmo”, Luciano percorreu 800 quilômetros em 31 dias no trajeto que atrai peregrinos do mundo todo.

Para uma viagem desse porte, é preciso preparação física e emocional. “Antes da viagem, treinei fazendo caminhadas com mochila pesada por vários quilômetros. Já durante a viagem, mantive contato constantemente com a minha família usando wi-fi disponibilizado ao longo do percurso por albergues e restaurantes”, relembra. Atual presidente da Associação Baiana dos Amigos do Caminho de Santiago de Compostela (Abacs), Luciano resume o que é fazer essa jornada. “O caminho não te torna nem melhor nem pior. Ele apenas potencializa o que você já é”, explica. “Não tem um dia sequer que eu não me lembre de algum momento dessa experiência. Fica marcado como tatuagem. Recomendo”.

Belo Horizonte: Em vez de pressa, perseverança”

Fernanda Mineiro, Supde de Belo HorizonteUma história de superação física e mental. Essa foi a experiência vivida pela colega da Supde de Belo Horizonte, Fernanda Mineiro, quando percorreu o caminho de Santiago de Compostela, em 2007. Foram 20 dias de caminhada com apenas uma mochila nas costas e um objetivo no coração: "Queria poder estar comigo, melhorar como pessoa e voltar mais leve pra casa".

Segundo ela, a travessia foi uma experiência única de viver de forma simples, acordar antes do sol e ter contato com pessoas do mundo inteiro que se ajudam e se comunicam apesar das diferenças. São muitas as lembranças marcantes, como o cheiro das flores, o sabor das cerejas e a companhia os animais no percurso. "Tudo isso me fez sentir e entender que o que vale na vida são as pequenas coisas de cada dia; que os obstáculos fazem parte, mas temos capacidade de deixá-los para trás; que não adianta ter pressa, mas perseverança”, detaca Fernanda. Foi então que entendi em profundidade o que Gandhi quis dizer com "Não existe caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho".

Brasília: “Precisamos de pouco pra viver”

Alexandre Dornelles, da Sunmp de BrasíliaAlexandre de Gusmão Dornelles, da Sunmp de Brasília, já esteve duas vezes em Compostela. Na primeira, em 1999, foi sozinho e percorreu 780 km em 26 dias, saindo da cidade francesa de Saint Jean Pied de Port. "Segui a pé o trajeto pré-estipulado. No caminho, fiz várias amizades, com pessoas das mais variadas nacionalidades, inclusive encontrei uma pessoa do Serpro, também de Brasília. Dessa primeira experiência, percebi que precisamos de pouca coisa para viver. Tudo que necessitamos neste percurso está guardado em uma mochila, companheira inseparável nesse caminho. Você percebe o sentido e a simplicidade da vida".

Alexandre também compartilha dessa visão ao relatar que, em 2009, sua segunda viagem a Santiago de Compostela na companhia da esposa, aprendeu a trabalhar a tolerância e a cultivar a paciência, já que "conviver 24 horas num ambiente diferente é difícil, as viagens trazem muitos contratempos”, anota o colega. Dos 1.400 km, iniciados na cidade de Le Puy, en Velay, o casal percorreu 450 km em 21 dias, deslocando-se de trem e ônibus em alguns trechos. Se percorressem o trajeto inicial, levariam dois meses. Mas os grandes prazos não inibem o colega, que planeja, daqui a dois anos, voltar ao Caminho de Santiago e andar tudo de novo.

Fortaleza: Quando o fim é só o começo

Carlos Pacheco, da Supde em FortalezaCarlos Henrique Pacheco,
do Desenvolvimento, é um andarilho nato. Há nove anos, vai para o trabalho a pé. Nos fins de semana, caminha por Fortaleza. E, em 2014, desafiou-se e percorreu os 800 km do Caminho de Santiago de Compostela. “O fim do caminho é um começo para a vida”, diz Pacheco, como é chamado na regional. “No percurso, senti solidão, saudade, dor, cansaço, felicidade, compartilhei com pessoas, vi belas paisagens. Nossa vida é da mesma forma, esse foi meu maior aprendizado. É importante saber que bons e maus momentos acabam, temos sempre é que seguir em frente”, explica.

Pacheco
comenta que a pouca bagagem que levou também lhe ensinou algo: “Não precisamos de luxo, necessitamos de pouco para viver”, acredita. “E a riqueza que vi foi a solidariedade. Um andarilho desconhecido, por exemplo, ajudou ao me ver machucado”, lembra.Tirando o nascimento de meus filhos, essa foi a maior experiência da minha vida. E quero ir de novo. O caminho é o mesmo, mas o aprendizado será diferente”, aposta.

São Paulo: "Compostela" brasileiro

Heleno dos Santos (à esquerda), Supde de São PauloHeleno Alves dos Santos
(à esq.) é um analista de desenvolvimento tranquilo, divertido e com gosto por longas caminhadas com apenas uma mochila nas costas. Mas, para contemplar seu espírito andarilho, abdicou do avião e escolheu um destino nacional: o Caminho da Fé, roteiro criado em 2003 na cidade de Águas da Prata, em São Paulo. Inspirado em Santiago de Compostela, o Caminho brasileiro leva peregrinos até o santuário nacional de Aparecida.

O percurso
atual tem 497 km, 300 deles atravessando a Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais, e interligando 37 municípios. Novas cidades vão sendo incorporadas ao longo do tempo. Heleno conhece quase todos os trechos. O trajeto Águas da Prata/Ouro Fino ele já repetiu três vezes, para levar iniciantes. “Fui com amigos incríveis e percebi que a amizade se solidificou ainda mais. Agradeço muito”, diz o caminhante, que qualifica a experiência como sensacional. “Andando só com o necessário, aprendi a praticar o desapego e a encontrar na reflexão a solução para meus problemas”, avalia Heleno. O andarilho e três amigos já estão planejando fazer um novo trecho: São Carlos/Tambaú, que tem 120 km, em três etapas.